terça-feira, 29 de junho de 2010

O exército na Realeza

A legião romana era a divisão fundamental do exército romano. As legiões variavam entre os 4.000 e os 8.000 homens, dependendo das baixas que eventualmente sofressem nas batalhas. Para além dos soldados, há que contar com os inúmeros servos, escravos e seguidores que as acompanhavam. Durante as suas campanhas na Gália, as legiões de Júlio César eram compostas por não mais de 3.000 soldados.




Evolução da legião

[editar] O exército na Realeza

Legião (de legere, escolher em latim) era a palavra que, nos primeiros tempos, designava o exército inteiro. O antigo romano era civis e miles: cidadão e soldado. O exército não constituía algo à parte, organizado especialmente para a defesa do Estado. Estava formado pelo conjunto de cidadãos; era, antes, uma guarda nacional composta de pequenos proprietários.

Segundo a tradição, até Sérvio Túlio, os efetivos do exército abrangiam três mil infantes (milles) comandados por três tribuni mílitum e trezentos cavaleiros (céleres) comandados por um tribunas celerum. A constituição atribuída ao supracitado soberano deu uma nova organização militar a Roma. Os cidadãos, divididos de acordo com seus haveres, formavam a cavalaria e a infantaria. A primeira era constituída pelos mais ricos: mil e oitocentos homens integravam as dezoito centuriae equitum (centúrias de cavaleiros). Os cidadãos pertencentes às cinco classes seguintes serviam à infantaria na seguinte ordem: duas legiões de juniores (cidadãos de 17 a 45 anos) formavam o exército ativo, as tropas de choque; duas legiões de seniores (cidadãos de 46 a 66 anos) integravam as tropas de reserva e de defesa territorial.

O armamento de bronze ou de ferro variava de acordo com a classificação do cidadão. Nos primeiros tempos, a infantaria atacava sem ordem definida de batalha, sendo frequentes os combates singulares. Ao depois, foi adotada a disposição da falange na ordem de combate.

[editar] O exército na República

[editar] Reforma de Camilo

Atribui-se a Camilo uma nova reforma na constituição do exército romano. Vejamos, brevemente, as inovações introduzidas.

a) O exército se compunha de legiões articuladas em manipules e centúrias. Cada legião abrangia trinta manipules e cada manipulo duas centúrias. O manipulo era a unidade tática: um quadrado de oito a doze homens de frente e de profundidade. Cada linha de batalha abrangia 10 manípulos dispostos em quincunce (quincunx): aos claros de uma linha correspondem os manípulos da seguinte.

b) Os legionários propriamente ditos formavam a infantaria pesada e se distribuíam em três filas segundo a idade:

• hastati, os mais moços, à frente;

• príncipes, os homens de idade madura, na segunda fila;

• triarii ou pilani, os mais velhos, na terceira fila.

“Esses nomes devem ter sido tomados de alguma organização anterior, pois, na legião posterior a Camilo, os hastati não têm hasta (isto é, lança); os príncipes não se acham na frente, como indica o nome, e os pilani não têm pilum (dardo). Pelo contrário, os hastati e os príncipes, também chamados antepilani, usavam pilum, ao passo que os triarii eram armados de hasta. O gládio, ou espada curta, de origem hispânica, só foi introduzido no exército romano após a Segunda guerra púnica”.

c) A infantaria ligeira (velites) compreendia os cidadãos pobres que faziam parte da antiga quinta classe. Os velites se distribuíam, de acordo com a necessidade, pelas três filas da infantaria pesada.

d) A cada legião acrescentava-se um corpo de cavalaria dividido em dez esquadrões (turmae) de três decúrias (decuriae), num total de trezentos homens.

O exército romano era completado pelas tropas aliadas (socii) e pelas tropas auxiliares (auxilia), formadas de mercenários bárbaros, tais como os arqueiros (sagittarii) cretenses e os fundibulários (íunditores) das Ilhas Baleares.

[editar] Reforma de Mário

Caio Mário introduziu uma reforma revolucionária no exército romano quando, em vez de fazer o recrutamento na ordem das classes censitárias, aceitou simplesmente o ingresso de linha de frente contínua com cinco fileiras de profundidade, todos os cidadãos. Permitiu, assim, pela primeira vez, a incorporação dos proletarii nas legiões. Desde então, foi supressa a diferença entre hastati, príncipes e triarii e o armamento foi uniformizado. Os velites foram extintos e, em seu lugar, ficaram os contingentes dos soberanos vassalos ou de povos submetidos.

O manípulo foi substituído como unidade tática pela coorte (cohors), formada por dois manípulos (Júlio César elevou esse número para três). Uma legião passou a ter, então, dez coortes: cada coorte continha dois (ou três) manípulos; cada manipulo era integrado por duas centúrias. A legião assim organizada tornou-se o grande instrumento de vitória, não só no último século da República mas durante grande parte do Império. "A força, divisão e armamento da legião mal variaram durante toda a época imperial até Diocleciano".

Observe-se que no século I a.C., a antiga cavalaria legionária foi cedendo lugar à cavalaria fornecida por forças auxiliares como, por exemplo, os cavaleiros númidas, ibéricos, germanos ou trácios. "De sorte que já César teve necessidade de dar à sua fiel Legião Décima os cavalos dos povos tributários para poder apresentar-se, durante seu encontro com Ariovisto, protegido e escoltado pela cavalaria romana. Nos primeiros tempos da época imperial voltou-se a introduzir a arma da cavalaria nas legiões, agregando-se a cada uma delas cento e vinte cavaleiros".

O legionário romano, a partir de Mário, é movido não só pelo dever mas também pelo interesse: os pobres que haviam ingressado na vida militar encaravam a guerra como uma indústria cujo produto deveria reverter em seu favor, pondo-lhes fim à miséria. "O exército profissional que Mário criou, sob o aguilhão da necessidade, conduziria fatalmente, um dia, aos pronunciamentos e à ditadura militares. Era, em potência, um exército monárquico, e se não gerou, logo em seguida, a monarquia, foi porque seu chefe Mário, tanto por indigência intelectual como por convicção, ficava preso às formas políticas que tinha sempre conhecido e porque, de resto, vivendo o presente sem preocupação do futuro e tendo alma de guerreiro, não possuía outra ambição que a de acumular as expedições felizes e de eternizar-se, para sua glória de parvenu, nos comandos externos".

[editar] Características do exército republicano

O recrutamento

Até a época de Mário, o exército era organizado anualmente na primavera (mês de março) e licenciado no outono. A partir de Mário, o exército tornou-se praticamente permanente, com a possibilidade da incorporação dos proletarii, que se fizeram soldados profissionais.

Auxiliados pelos tribunos militares (eleitos pelos comícios tributos), os cônsules, instalados no Capitólio, procediam à incorporação (agere dilectus). O contingente necessário era obtido por sorteio. Aceitavam-se voluntários (volones). Alguns magistrados e sacerdotes, em virtude de suas funções, os doentes, os fisicamente incapazes, e os pobres (até a época de Mário) estavam isentos do serviço militar.

Um veterano prestava o juramento militar (sacramentam) e os demais repetiam: “ldem in me” (Da mesma forma para mim).

Após o juramento, seguia-se a revista (exercitam recensere) e o sacrifício (lustratio).

O armamento





O legionário romano possuía armas defensivas (arma) e ofensivas (tela). Entre as primeiras enumeremos:

• cassis (elmo de bronze) e galea (capacete, a princípio de couro e, posteriormente, de metal);

• lorica (couraça de metal e couro que protegia a parte superior do corpo);

• scutum: escudo de madeira, revestido de pano e couro e, depois de Camilo, reforçado por uma orla metálica. Era ovalado e convexo no século III a.C.; semicilíndrico no século I a.C. Media cerca de 1,20 m de altura e 80 cm de largura. Algumas coortes de Júlio César usavam um escudo de couro chamado cetra: as cohortes cetratae. Parma era um pequeno escudo redondo usado por infantes e cavaleiros.

Entre as armas ofensivas, havia:

a) gládio: espada curta bigume usada por todos os soldados;

b) pilo: dardo de madeira com ponta de ferro;

c) hasta: lança. "A hasta era de madeira, às vezes de ferro, com ponta (cuspis) e, geralmente, na outra extremidade, uma peça metálica, também aguda (spiculum), que servia para fincar a hasta no chão. Da hasta que, com telum, pode ser designação genérica de toda arma de arremesso, são variedades a lancea, lança; o sparum, rojão; o iaculum, dardo, cujo nome se prende ao verbo iacere, atirar; a framea, lança germânica de ferro estreito e curto, etc."

Além do armamento individual, os soldados romanos usavam, nas operações militares, diversas máquinas, entre as quais vamos citar: o aríete (aries), a torre (turris mobilis), a catapulta (catapulta), a balista (balista) que faziam parte do complexo arsenal utilizado no ataque (oppugnatio) e no assalto (expugnatio) às cidades.

O soldo

Primitivamente o serviço militar era prestado a título gratuito. Atribui-se a instituição do stipendium a Camilo. César aumentou consideravelmente o soldo de seus soldados. Convém lembrar que os militares participavam da presa de guerra e eram regiamente premiados por ocasião do triunfo.

A disciplina e as recompensas

Os legionários romanos estavam enquadrados numa rigorosa disciplina em que penas e recompensas se alternavam conformes as faltas e os méritos. Entre as penas, podemos citar: a redução ou privação do soldo e da participação na presa de guerra, o açoite, a degradação e a decapitação.

Entre as recompensas, podemos mencionar: elogios (laudes), condecorações (phalerae), braceletes (armillae), coroas (coronae) e outros distintivos. A maior recompensa que um general vitorioso podia obter era o triunfo: o chefe vencedor, com coroa de louros e em carro puxado por quatro cavalos brancos, partia do Campo de Marte para o desfile triunfal. “Precedido de magnífico cortejo, atingia pela Via Sacra o Capitólio e aí oferecia solene sacrifício de touros brancos”.

A hierarquia





Os graus da hierarquia militar no exército republicano eram, em linhas gerais, os seguintes:

• General em chefe: Cônsul ou pretor. Comandava todas as legiões do exército. Estava, em geral, acompanhado de ajudantes de campo e de uma guarda de honra.

• Tribunos militares (oficiais superiores): Cada legião possuía seis tribunos militares, cabendo a cada um o comando de dez centúrias e, por rodízio, o comando da legião.

• Centuriões (oficiais subalternos): Cada centurião comandava uma centúria. No manipulo era considerado superior (prior) o chefe da centúria direita e inferior (posterior) o chefe da centúria esquerda.

• Suboficiais: Optiones (ajudantes), signiferi (alferes), campidoctores (instrutores). Esses oficiais, em geral, não dispunham de comando, mas dirigiam os serviços gerais. Figuravam entre os mesmos os arquitetos e os médicos militares.

Entre os soldados rasos havia uma graduação: soldados de primeira classe (immunes), isentos de certos serviços, e os de segunda classe (munifices).

Na cavalaria, cada turma era comandada por um prefeito (oficial superior) e as decúrias por decuriões (oficiais subalternos).

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